Há uma dezena de anos, o mundo dos especialistas em Antiguidade grega foi abalado pelo trabalho de Victor Davis Hanson, professor da Universidade da Califórnia. Desde então, as polêmicas não cessaram de circular ao redor das hipóteses e idéias apresentadas no livro O Modelo Ocidental da Guerra, com um subtítulo mais explícito: A Batalha da Infantaria na Grécia Clássica.
Examinando de perto o sistema político-econômico das cidades gregas e as narrativas das batalhas de época, o historiador propõe uma teoria que é, desde então, adotada por quase todos os especialistas anglo-saxões em questões militares. Hanson testou suas hipóteses exaustivamente: seus estudantes na Universidade da Califórnia vestiram réplicas de armaduras gregas de metal e, sob o sol do deserto californiano, fizeram exercícios com armamentos de bronze pesando até 35 kg. (Jogue Romanius agora mesmo!)
Existiria assim um "modelo ocidental de guerra", e os gregos dos séculos VIII e VII a . C. seriam seus inventores. Este modelo se resume da seguinte forma: preferência clara, às vezes dominante, pelo choque frontal e pela batalha decisiva; vontade de obter um resultado claro em prazos reduzidos; vontade de marcar uma separação clara entre o amigo e o inimigo de um lado, e, de outro, o tempo da guerra e o da paz.
Já se sabia que cada povo, cada civilização, possui uma forma particular de fazer a guerra. Os cronistas sempre insistiram neste ponto, e os trabalhos dos antropólogos contemporâneos apenas confirmaram este saber empírico. Mas um "modelo ocidental da guerra", sobretudo aquele que interessava a Hanson, supõe ser comum a um número considerável de civilizações, por vários milênios. Temos, então, o direito de nos questionarmos e de usarmos de prudência intelectual. De fato, não estamos apenas diante de uma arte da guerra tal como praticada por um povo bastante estabelecido em uma época precisa e limitada, pois, segundo nosso autor, os gregos das cidades antigas inventaram um modelo de guerra que foi adotado posteriormente por todas as civilizações ocidentais, de forma mais ou menos consciente. Modelo que encontra, assim, sua conceituação teórica com os escritos militares do general prussiano Carl von Clausewitz, nos primeiros decênios do século XIX, empregados nas hecatombes da Primeira Guerra Mundial.
A tese de Hanson é de extrema importância, não somente porque propõe uma grade de análise de vários milênios de arte da guerra, o que não é pouco, mas ainda porque pretende provar que a "matriz" do Ocidente, que foi a civilização das cidades gregas da era clássica, não deu origem somente aos modelos nos campos político, filosófico, científico e artístico, o que é normalmente admitido há séculos e constitui até mesmo uma espécie de clichê, mas também no campo militar. Será preciso, então, colocar o hoplita grego ao lado de Péricles, Demóstenes, Platão e Aristóteles, como figura fundadora da nossa civilização ocidental.
Fonte: http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/as_armas_cidadaos__com_os_hoplitas_os_gregos_formam_um_exercito_constituido_de_cidadaos_livres_.html
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